Previsão do Tempo

Carregando...

Cotação Dólar

Carregando...

O escândalo das safras: como uma ciranda de duplicatas e conexões políticas movimentou centenas de milhões no agronegócio brasileiro

A lógica era simples: comprar uma bomba-relógio com o dinheiro dos outros e usá-la como isca para um plano de capitalização absurda (docs. juntados no pedido de RJ 1007134.62.2025.8.11.0015)

Era uma vez em Sorriso, no Mato Grosso — nome sugestivo para uma história que hoje faz qualquer credor franzir o cenho e mantém o sorriso apenas no rosto de poucos, os espertos. Nos tempos remotos em que Fábio Del Canale Vizentim trabalhava na Ovetril S.A., fez amizades que, à época, pareciam apenas boas conexões de escritório: Pedro Moraes Filho, colega de empresa, e Dilceu Rossato, prefeito local. Anos depois, os três seriam protagonistas de um roteiro digno de novela mexicana — ou talvez de um thriller financeiro com final trágico para muitos e feliz para poucos.

Após fracassar como produtor agrícola e deixar um rastro de dívidas, Fábio se exilou empresarialmente em Maringá, Paraná, fundando, no nome da esposa, o Grupo Nutri — que incluía a Nutri Agroindústria, a Baxi Foods e a Baxi Distribuidora. Em sua nova vida, conheceu Luiz Henrique Wolf, CEO da FlowInvest. E, como todo bom enredo começa com um encontro “casual”, Fábio apresentou seu novo amigo aos antigos: Pedro e Dilceu. Estava formado o trio de ouro do agronegócio especulativo (as execuções contra Fabio estão no Google).

Em 2022, a FlowInvest começou a descontar duplicatas da Safras Armazéns Gerais, empresa de Pedro e Dilceu. Tudo dentro dos conformes — exceto pelo pequeno detalhe de que empresas saudáveis não recorrem a esse tipo de financiamento emergencial com juros dignos de agiota. Mas, como desgraça pouca é bobagem, em 2023 o consórcio Flow/Safras decidiu adquirir o Grupo Nutri. Não como salvação — mas como peça-chave de um plano muito maior e, diga-se, mais maquiavélico.

Como o Grupo Nutri não tinha envergadura suficiente para o esquema, pouco depois, em junho de 2023, a sociedade Flow/Safras faz uma nova investida e compram a Copagri S.A., uma empresa já endividada em R$ 560 milhões (R$ 140 milhões para fornecedores e R$ 420 milhões para bancos e um CRA) mas com ativos interessantes contabilizados em R$ 330 M (R$ 30 milhões em caixa, R$ 60 milhões em contas a receber, R$ 100 milhões em estoques e R$ 140 milhões em ótimos créditos tributários). O preço pago? R$ 40 milhões — parcelados e, claro, não pagos. O que interessava mesmo era o contrato de sublocação de uma fábrica pertencente a massa falida da Olvepar Alimentos, outra paranaense. A lógica era simples: comprar uma bomba-relógio com o dinheiro dos outros e usá-la como isca para um plano de capitalização absurda (docs. juntados no pedido de RJ 1007134.62.2025.8.11.0015).

A cereja do bolo veio em 2024: a criação do fundo Safras Armazéns Gerais FIDC, hoje Bravano (quase bravata), que passou a operar como uma máquina de sugar recursos do próprio grupo. O esquema? Emissão e recompra de duplicatas, geradas pelas empresas do Grupo, gerando um “lucro” para o fundo e um “prejuízo” para o grupo — que, como mágica, transformava dívidas em ativos para seus próprios donos. Sim, os mesmos nomes apareciam dos dois lados do balcão (conforme dados públicos em: https://fnet.bmfbovespa.com.br/fnet/publico/abrirGerenciadorDocumentosCVM?cnpjFundo=54114034000136).

Em menos de um ano, o fundo acumulou R$ 285 milhões a receber — tendo tido apenas R$ 20 milhões de aporte inicia (conforme relatório disponível no sítio dados públicos link anterior). Onde está o milagre? Nos R$ 265 milhões de “lucro” obtido com as duplicatas mágicas do Grupo Safras. O detalhe? Essas dívidas são “extraconcursais”, o que, traduzido, significa: prioridade total frente a qualquer outro credor, inclusive o fisco e os trabalhadores. Tudo isso, porque Pedro e Dilceu garantiram essas dívidas com as próprias cotas do Grupo Safras. Em outras palavras: o fundo é dono das empresas que o devem. Literalmente, dono de si mesmo.

A engrenagem girava em uma velocidade intensa, Grupo Safras, tecnicamente “cedente”, emitia duplicatas para diversos “clientes” que em termos técnicos são chamados de “sacados”, no valor de R$ 1.000.000,00, como exemplo, descontava/antecipava nos fundos por R$ 700.000,00, recebia esse valor em seu caixa e logo após recomprava (tecnicamente operações de recompra), o mesmo título pelo valor original de R$ 1.000.000,00. Desta forma as empresas do Grupo Safras recebiam R$ 700.000,00 em seu caixa e devolviam para os fundos do consórcio R$ 1.000.000,00 gerando um prejuízo artificial de R$ 300.000,00 no Grupo Safras e um lucro de mesmo valor nos fundos, este exemplo é apenas didático e para efeitos práticos precisa ser colocado sob o prisma de uma empresa que em 2024 faturou bilhões de reais e pode ter feito essa transação com valores astronômicos e diariamente, transferindo literalmente centenas de milhões de reais para fora do chamado “Grupo Safras”, mas nem tão fora assim dado que como se pode deduzir esses fundos e essas empresas, ao final das contas, possuem os mesmos sócios e beneficiários.

Isso não passou despercebido pena agência de risco que alertou: “durante o período de 28 de março de 2024 (início das atividades [do fundo]) a 31 de dezembro de 2024, o fundo registrou recompras de direitos creditórios pelos cedentes no montante de R$ 271.018 mil”, ou seja, o Grupo Safras recomprou R$ 271 milhões de títulos que tinha vendido com deságio para o próprio fundo.

Se você achou isso o cúmulo do descaramento, espere: o fundo e a FlowInvest também pegaram para si os estoques, os recebíveis (esses genuínos) e até os créditos tributários da Copagri e das demais empresas do Grupo. E, como era de se esperar, têm usado tudo isso como escudo contra as ações de cobrança de credores legítimos — como no caso da Binotti Armazéns Gerais Ltda, apenas como exemplo, que enfrenta uma verdadeira muralha jurídica erguida com recursos de renomados escritórios de advocacia de renome internacional como Marcelo Sacramone, Gabriel de Orleans e Bragança, Elias Mubarak e Daniel Carnio e outros do baixo clero como Saulo Gahyva e Lorena Gargaglione (esses para o serviço mais controverso e mundano).

Somente o Safras/Bravano FIDC que agora se chama Bravano e a FlowInvest possuem aproximadamente R$ 400 milhões para receber do “Grupo Safras”, gozam das melhores e mais privilegiadas garantias.

A engrenagem do esquema é perfeita e lubrificada com o azeite dos negócios, muito dinheiro! Todos os recebíveis e estoques estão em garantia para o braço financeiro do esquema (FlowInvest, Safras/Bravano FIDC e BTG).

E então entra o BTG Commodities, que se aproveita da unidade fabril em Cuiabá — aquela mesma envolvida com a falida Olvepar. O BTG arrendou a fábrica em um contrato de “prestação de serviços” que, na prática, é uma sublocação disfarçada. Todos os produtos beneficiados são do e para o BTG, que também determina com quem o Grupo Safras pode negociar. Tudo é pago em uma conta vinculada — administrada pelo próprio BTG. (Contrato juntado no pedido de RJ 1007134.62.2025.8.11.0015).

Nesta pseudo prestação de serviços que é nitidamente uma nova sublocação disfarçada e isso pode ser facilmente verificado através da simples leitura do dito contrato de prestação de serviços e na observação das regras ali entabuladas, por exemplo: (i) somente o BTG pode beneficiar produto na fábrica; (ii) o Grupo Safras somente pode comprar produtos de vendedores previamente aprovados pelo BTG e desde que revenda o produto para o BTG; e (iii) a suposta prestação de serviço é paga pelo BTG em frações assim determinadas: (iii.a) uma parcela que deve ser exatamente a do aluguel devida pelo Safras; (iii.b) uma parcela é para pagar o valor da folha de pagamento desde que aprovada e autorizada pelo BTG, e (iii.c) uma parcela é para cobrir todos os gastos com a industrialização como insumos de produção e energia elétrica. Tudo feito diretamente pelo BTG através da dita conta vinculada, administrada pelo próprio BTG, dentro do BTG, ou seja, 100% do que a unidade fabril poderia gerar serve para o BTG pagar os custos de operação de uma unidade administrada por ele ou para amortizar dívidas extraconcursais que o próprio banco supostamente tem.

A única exceção é uma parcela desconhecida, essa sim não é apropriada pelo BTG, mas pelo FlowInvest. Resumidamente o Grupo Safras se presta sim um enorme serviço ao BTG, é laranja do dele!

Oficial de justiça incumbido de reintegrar a sucessora da massa falida da Olvepar Alimentos na posse da fábrica transcreveu a fala do gestor da fábrica em seu laudo. O gestor asseverou categoricamente a real situação, disse o gestor da fábrica: “Aqui tudo é BTG, a Safras á quebrada”. Mais preciso não poderia ser.

E o BTG não parou por aí. Em 78 dias, o Grupo Safras comprou, deu em garantia e vendeu ao próprio BTG uma unidade armazenadora em Nova Maringá/MT, amargando um prejuízo de R$ 2 milhões. Uma ginástica cartorial que deixaria qualquer tabelião zonzo, tudo isso devidamente registrado as margens da matrícula 7.151 do CRI de São José do Rio Claro/MT.

O último refúgio dos credores seriam os bens das demais empresas do Grupo Safras ou os bens supostamente pertencentes aos acionistas formais Pedro e Rossato, mas nem esse ponto foi descuidado pelos ardilosos devedores. Em manobras societárias e matrimoniais entre outras o esquema avançou sobre a alcova.

Em novembro de 2023, logo após adquirirem a Copagri Rossato e seus asseclas mais próximos constituíram algumas holdings familiares e patrimoniais, a Rossato Participações Ltda e a Agro Rossato Ltda (controladora e controlada respectivamente) são duas delas. Durante o ano de 2024 essas empresas receberam mais de 6.000 hectares de imóveis rurais na região de Sorriso/MT, áreas muito nobres e avaliadas em mais de R$ 600 milhões de reais, porém, em um acordo conveniente e duvidoso, Rossato, sócio das falidas empresas do Grupo Safras, se divorcia de sua esposa Cátia deixando para ela toda a participação nessas holdings familiares e patrimoniais que possuem centenas de milhões de patrimônio e nenhuma divida e fica, de forma franciscana, com suas participações no Grupo Safras cuja situação financeira já se encontrava destruída.

Com esta manobra Dilceu Rossato, que além de acionista, administrador é avalista de inúmeras operações do Grupo Safras, deixa para sua esposa todas as fazendas que até então compunha seu patrimônio e servia de lastro para as operações do Grupo Safras e passa a ser proprietário apenas das empresas do Grupo Safras, endividadas, em situação de total insolvência.

Caminho diferente não foi adotado pelo outro sócio Pedro Moraes Filho que renunciou à empresa Gabiza Transportes de Cargas Ltda que foi “deixada” inteiramente e generosamente para seu cunhado Fabiano Junior Bonatto em datas alinhadas com as demais alterações societárias, movimentos semelhantes e, sem sombra de dúvidas, finalidades idênticas.

Todas essas manobras conjugais foram escancaradas pelo credor Bertuol Industria e Comércio de Fertilizantes Ltda (CNJ 1003999.64.2025.8.11.0040) com uma riqueza de detalhes e documentos assombrosa e já foi objeto de veemente repudio por parte do Grupo Safras através do correto recurso judicial, “Agravo Jornamental”, alegam que a decisão da magistrada que deferiu parcialmente os pedidos do credor “são infundadas e completamente desconectadas da realidade”.

Esse enredo, amarrações e personagens não decorrem de deduções ou de conclusões circunstanciais, decorrem de robusta documentação e provas, na sua esmagadora maioria pública, mas muito bem disfarçada, fragmentada e espalhada com um único objetivo, dificultar o entendimento de todo um golpe orquestrado cinematograficamente, privilegiando poucos as custas do prejuízo de muitos, utilizando-se do sistema judicial brasileiro. Não se pode ignorar que esse calote está sendo gestacionado há dois anos e o último movimento é uma RJ onde o prejuízo será socializado.

Não restam dúvidas que nos últimos dois anos o que foi feito tinha como único fim prejudicar centenas de credores e isso é descrito com perfeição no documento intitulado “Contrato de Opção de Compra de Participação Societária” firmado em agosto de 2024 entre todos até aqui citados (com exceção ao BTG que tem seus próprios meios e instrumentos), seus respectivos cônjuges e empresas. Este documento, que, em tese, deveria ser sigiloso, foi arquivado pelos próprios sócios na Jucepar – Junta Comercial do Paraná e posteriormente pedido o desarquivamento com a justificativa de conter “cláusulas de confidencialidade” (Documento juntado no pedido de RJ 1007134.62.2025.8.11.0015).

No documento em questão tanto Fabio e esposa (o do início) e Luiz Henrique Wolf quanto Pedro, Rossato e seus familiares, em total conluio acordam como seria tocado a nova agremiação de malfeitores, com os papeis claros e tudo organizado, inclusive como seria dividido o espólio de uma guerra fraudulenta e muito bem planejada. O FlowInvest ficando com 60% e Pedro e Rossato com 20% cada.

Coube ao grupo do FlowInvest, através de seus fundos, de seus parceiros/sócios, de seu corpo jurídico robusto e estrelado ditar todas as diretrizes do Grupo Safras. É o FlowInvest que detêm atualmente total poder de mando no Grupo Safras, é o único, conforme o documento, que pode, por exemplo: (i) definir reorganizações societárias, (ii) autorizar a tomada de dívidas; (iii) autorizar a venda de ativos; (iv) autorizar a distribuição de dividendos; (iv) nomear ou vetar qualquer membro da diretoria, os poderes são ilimitados e para assombro o mais interessante: Autorizar o Grupo Safras a pedir recuperação judicial.

Não é à toa que o Safras escolheu o FlowInvest como seu mentor para essa empreitada, o FlowInvest e seus parceiros (Axioma – significa uma verdade absoluta e autoexplicativa; Artesanal – significa algo manualmente por um artesão; Alcateia – significa o coletivo de lobos (Wolf em inglês); CTG – significa Centro de Tradições Gaúchas; BTG – já de fama e conhecimento popular; p.e.) já implementaram este modelo de negócio no Estado de Mato Grosso, estiveram muito envolvidos na RJ do grupo Redentor, empresa de produção agrícola, e frigoríficos e na mais nova falência de Mato Grosso, AFG Brasil; na disputa judicial da Camponesa Agropecuária. Todos esses casos são exemplos idênticos, credores que criaram créditos, se apropriaram do patrimônio e deixaram credores e outros interessados sem nada.

O estado de Mato Grosso há muito detém o título de Celeiro do Brasil, agora, pelo andar das coisas, deve ser também o celeiro das RJ’s e dos trambiques, neste maravilhoso estado em se plantando tudo dá, alguns tem plantado vento para colher Safras.

Nos próximos capítulos deste drama saberemos quem vai Sorrir por último, sem nenhuma “Safradeza” espera-se!

Da Redação/Sérgio Ricardo